Mais de 95 % dos consumidores de droga, referenciados pelos serviços de saúde ou estabelecimentos prisionais, são heroinodependentes. O consumo de heroína deixa traços amnésicos que perduram no tempo, mesmo depois de os seus vestígios terem sido eliminados do corpo. Torna-se a paixão de uma vida.
A heroína é um opiáceo obtido por síntese. Foi criada em 1879 nos laboratórios Bayer que procuravam encontrar um analgésico forte como a morfina, mas que não provocasse dependência. No século XIX a morfina provocou grandes problemas de dependência e, os laboratórios mais prestigiados da época procuravam encontrar uma substância que a substituísse no poder analgésico, mas não no poder aditivo.
O nome heroína deriva da palavra alemã heroish, que significa poderoso, heróico. Quando foi descoberta atribuíam-se-lhe grandes propriedades. Em menores quantidades tinha efeitos maiores e pensava-se que trataria a tuberculose e os dependentes de morfina. Mas os riscos e efeitos negativos da heroína foram descobertos e acabou por ser retirada do mercado como medicamento.
A heroína é uma droga psicótica. Actua sobre o sistema nervoso central e provoca prazer. Provocando um estímulo muito intenso e brusco nas vias do prazer, não permite que o sistema cerebral se adapte a esse estímulo. A incapacidade de adaptação dos mecanismos cerebrais a essa intensidade e rapidez do estímulo provocado pela heroína cria a dependência. A heroína cria picos de prazer que deixam uma marca forte na memória. Esse efeito de prazer vai ser para sempre procurado pelo heroinodependente.
É essa dependência psicológica que mais agarra o heroinodependente. As recaídas de um heroinodependente em tratamento devem-se sempre à dependência psicológica. A representação mental dos efeitos do prazer que o consumo de uma droga proporciona é um património unipessoal indestrutível e, é grandemente responsável pela dependência.
Os efeitos iniciais da heroína sobre o sistema nervoso central são: analgesia, sonolência, euforia, sensação de tranquilidade, diminuição do sentimento de desconfiança, embotamento mental, contracção da pupila, náuseas, vómitos, depressão da respiração (o que causa a overdose) e desaparecimento do reflexo da tosse. O consumo de heroína provoca também prisão de ventre e dificuldade em urinar. Nas mulheres desregula os ciclos menstruais.
Os consumidores crónicos desenvolvem tolerância em relação aos efeitos de euforia, depressão respiratória, analgesia, sedação, vómitos e alterações hormonais. Estes consumidores também desenvolvem sintomas como diminuição da libido, insónias e transpiração.
No consumo de heroína a tolerância é desenvolvida com grande rapidez, o que permite admitir maior quantidade de droga. Procura-se obter com maiores quantidades de heroína os efeitos que antes eram conseguidos com doses menores. A dependência gera-se facilmente.
Hoje a dependência é vista sob um modelo bio-psico-social, onde se tem em conta as incidências aos níveis biológico, psicológico e social. Os factores de risco para uma dependência são circunstâncias pessoais, sociais ou relacionadas com a substância que tornam mais provável que um indivíduo se inicie no consumo de drogas.
O síndrome de abstinência da heroína provoca sintomas como desejo de consumir, náuseas, hipersensibilidade à dor, inquietação e irritabilidade, ansiedade, insónias, dores musculares, entre outros. Mas estes sintomas desaparecem numa semana. O que permanece é a lembrança da droga. Mesmo quando corpo já "esqueceu" a heroína, a mente pode levar uma vida a esquecê-la
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